Num instante, o aloucado Ícaro,
n'outro, o alocar de uma minhoca.
O sol também terá um sono eterno.
Toda estrela o tem, por certo.
Mas sempre há uma suave chuva.
Vamos ali prum café com uva?
Um sorvete? Falar das curvas
que comovem todo trem?
Num instante, o mato do sátiro.
Noutro, ele também.
Seu desejo é fechar
as ninfas com burca.
Num instante, a deus temos,
noutro, tememos deus,
crença, descrença,
mas quando passa o carro
sobre nossas cabeças
eterniza-se a estrada.
Um amigo chora, escarlate,
e isso o anoitece.
Mesmo cético, creio,
na noite que não é minha.
Lembro a voz de Omar:
"Nessa encruzilhada
do desejo e da necessidade,
não deixes nada..."
Falou alguma coisa mais.
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