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SER HUMANO É DESUMANO?

Um ser humano leva um celular,
que comprou de um desconhecido,

barato e sem nota fiscal
pra que sua filha dê-lhe um sorriso.

Outro ser humano no banco da praça
pensa na família 

que lhe espera no barraco
e estende a mão 
por cinco reais de esmola
pois diz que não compensa menos
já que tudo tá o olho da cara;
e seu carro está a apenas cem metros dali,
no caminho ele vai tirando a gaze
com que enrolou pernas e braços...

acha um celular.

Outro ser humano no beco da ponte
faz um pacto de ilusão

mesmo sem ver ou ouvir
com o anjo Febrônio
que caiu faz pouco tempo (cem anos?)
de um buraco da camada de ozônio.

Seu celular quebrou.

Outro descobre de onde vem 

a palavra penico 
num livrinho cujas páginas 
ia usar depois da ocupação
de seu peniquinho esmaltado.
Ser humano é difícil pra burro...
sem celular.

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É TARDE E ESTOU DENTRO

Domingo, um dia de algum abril É tarde e estou dentro de mim e de um ônibus, falo alto por fora num silêncio por dentro, bem atrás, de onde o cheiro reverbera, rodeada de uma porção de moscas humanas, de uma porção de coisas, uma mendiga entre sacos de plástico sorri sem nariz. . Uma outra mendiga finge ser madame, com um poodle de papel francês: caniche, com latido em bolhas, do imaginário desfiado em sacos plásticos de mercado. No lado esquerdo do ônibus, um ruela zé cospe nela seu cérebro podrelíquido. . Quando desço, desce a consciência comigo, caminha comigo desde há muito, a me ensinar que o excesso de perfume pode esconder uma alma empoçada. e vice-versa, ou quase.

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Sei que o rio deve seguir seu curso. Mas preciso descansar entre as pedras correntes, As pedras cristalinas de seus olhos. Gostarias, sei, que eu movesse para ti Diamantes com lábios, algo assim. Mas quero-te foder a toda hora Com meus instintos de pedreira em sêmen.

PERTO E LONGE SEM TI

Estar longe de ti somente um dia É muito, mas começo para ter-me. Estar perto de mim a eternidade Desequilibra a alma, se esquecer-me. Estar? dificuldade que me afia. Ser já é em dúvidas quedar-me. Vigio na intenção de não perder-me. É te largar um modo de encontrar-me? Voltar? Não posso. Está passando o tempo. Só não sei onde, sei que é mais destarte. Se o tempo pára, sei que paro em ti, Amando ausente, mesmo a festejar-te. Sim, bem-amada, deixa o ser chorar-te. Cruze por terras muito, embora tarde. Estar perto de mim a eternidade, Sem ti, é como estar longe da Arte.