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ASSIM, TUDO COMEÇOU

Assim, tudo começou naquela ilha. Tinha cheiro forte aquele mar. Quando nos beijamos, o céu caiu. E nos encheu de um oceano doce. E nasceram em nós caravelas antigas. E nasceram juntos os que as guiavam. E vieram os tufões. E vieram sereias de flautas de corpo às bocas. Os mares tinham o contorno de nossos encaixes. Creio que ainda existem.  Mas e as pontas? Como vieram?

SEM MODUS

Sem modus operandi, eis que o poema expande linhagem infinita de poesias sem lugar. Lugar disso é naquilo. Meu processo de poesia é passivo quando brande-se, a custo é que se equilibra meu processo dandi . Dandi é o que não percebe. Meu tempo cresce no hoje, disse Paulinho à viola. Mas o meu tempo é vazante e no dar-se-me estiola-te. Dando é que não se recebe. Sem lugar a não ser pra ruga Do espaço que cronos envelhece, O poema mata a pulga grafema.

MITO ALQUÍMICO - PARA A PEÇA TEATRAL EXODO

O desespero no limite A sempre iterritorial habilidade de sonhar O navio invisível lembrando  Quantas? Chegar a algum lugar pretensão  Num tempo de destruição de todos os lugares Num tempo de destruição do ir e vir Num tempo de destruição dos direitos cruciais Num tempo de triunfo dos déspotas públicos esclarecidos Num tempo de sem-tempo a não ser para desmontes do humano A pergunta que se faz é se há um pão de teatro para comer em paz Um pão de pintura pra se morder Um pão de escultura um pão de música Sem se tornar artista oficial Sem a necessidade de comprar vaselina Para que não doa o falo-imperialismo-econômico Como buscar o transreal sem dor O paraíso no mármore linóleo madeira acústica Como estar seguro na fronteira entre o real e o ilusório Como estar seguro fugindo de si mesmo O neo-fascismo acena com as delícias Querendo invadir os sonhos As faces do anjo maquiadas por telas e telões Na direção da terra prometida O sangue escorrendo dos ...

MEU SOLAU ENVERGONHADO

Com meus versos, nesta hora, faço agora o bem perfeito de louvar essa senhora deste desenho imperfeito de um livro da Idade Média, usando o imaginário, mas dando um real tempero. Esta dama medieva tem qualidades no peito que quantos o sabem coram, tudo nela é bem aceito, bela é por dentro e por fora. Direi a vós que não há igual em beleza e chora quem não consegue beijar sua boquinha de amora. Quando pousa a nosso lado com seus olhos de bonina, plenos de brilho, endeusados, na frente de uma cortina... Quando pousa no balcão com seu jeito de sofrer, tão triste, mas que contém a beleza das estrelas... Quando pousa, a sensação é de mar esverdeado, em tal iluminação, que torna belos os peixes e ao bom futuro inspira com seus líquidos encantos. Pode estar neste desenho, Mas sinto perto o seu cheiro... Ela mora em outro século, tem guardas sérios, matreiros gigantes ...

VIOLA BOLORENTA

Paulinho é gênio, Quer ser escritor. Só não leva prêmio Se o assunto é amor. Chega a ter ataque Quando vê Maria, Célia, Lúcia, Márcia, Juntas num só dia. Mas é no teclado Que Paulinho vinga, Joga o dedo irado E poemas singra. Vê a foto de um atleta E inveja em seu tormento. “Por fora, bela viola, Por dentro, pão bolorento.”

SECANDO SONS E SULCANDO SINS

Feri demais a alma em verso sôfrego, E fui sangrando mais, poetizando. Feri-a não, firo-a e sem fôlego É esse tom di(verso) me calando. Amo-a, alma de diversa idade, E enfio-lhe os dentes, furo veias, Mordo-lhe a complexidade, E entorto a luz que ateia. Vivo a ferir de escuros a poética, Hibernado em caverna impura, Onde Platão medrou nas mentes céticas. Adenso o ser pondo figuras De dentadas, frases fétidas, Na garganta que o poema acura.