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CARNE E GULA

(E o filme, Inconstance?) Quem sabe em mim te balance E com paixão te cutuque, E a febre de eros dance Embora a morte retruque. Quem sabe te telefone Ou, só, bata um bom batuque. Ou no escuro eu desconverse As falas n' alta fervura. Ou talvez eu faça mais. Sabes bem o quê. Me apura O costume de ajeitar Mulher gozando cultura. Aos pés de teus uivos loucos, Te lamberei os buracos. Tirarei toda aspereza, Partindo teu corpo em nacos. Salgarei nossos braseiros Deixando-te nua em cacos. Nos intervalos da rua, Ou em becos sem quimeras, Por sob a minguante lua, Nosso amor em primaveras, Enquanto a tara flutua, Faz nossa carne sincera. (Começou a luz na tela!).

E SOFRE E CANTA E SANGRA

(E a esfera me ouve ao poço) - Por que o poeta sofre e canta? Por que seu sangue escorre, grosso, E sua pele esconde o osso De seu amor em letra branca? Quando a vi E alisei-lhe o rosto Com o olhar Houve música de tal forma ensurdecedora Que me dançaram os tímpanos da pele -Por que a lágrima faz lago, E este sol parece chuva, E este som parece nada, E esta fome dela turva-me? Quando a vi E alisei-lhe o rosto Havia nutrição No seu sorriso explosivo E me alimentei -Se vou subir, subo, caindo, E esta ave, voando, finge-me A Musa Insone, parente de Eros, Que dela parte e ao peito atinge-me. Quando a vi E alisei-lhe a face Havia um frescor infrene Nas gotas em sua língua E me banhei (Deu-me a Esfera uma cuspida, Me estremecendo o fio da vida)

AMAR COM QUEBRANTO

Como amar quem vos respira Sem risco de sufocar-vos? Como subir na árvore-sal Se os doces não têm qual? Como amar sem se porém Em si é tudo e é quantum? Como amar quem quer que quando Se amar vem com quebranto?

HISTÓRIA DO QUE NÃO PUBLICOU

(Não, não tenho livro de poemas...) Já lhe mencionei brevemente um dos mais conhecidos poetas, filho do sabão e do amoníaco, nascido em Bucatão, suicidando-se – padecendo de femeoidolatria, – enforcando-se com um poema - o primeiro seu, pontiagudo e longo. A sua vida não foi propriamente vida, pelo frio que continha de solidão. Na opinião de Gurilundo, teve o poeta o supremo “dom de exaltar o nada." Um dos mais conhecidos poetas, filho do sabão e do amoníaco, publicou o seu primeiro livro aos cinco anos, seis meses, um dia, meia hora, trinta e dois minutos e alguns milionésimos de segundo. Mais tarde, exila-se na Bonifácia, onde vende seu corpo para coroas; parte para Praia Enorme, e ali vive de «leite, tirado de prostitutas do pasto pink da noite»; frequenta cursos em Zonabuonapeste, traduz Mendigos Poetas que escreviam com a merda mais amarela que pegavam. Frequenta os meios intelectuais e pede esmola aos exilados bêbados casados com lésbicas indecisas e ricas. Regressa à Bucat...

PRONTO, VOLTE NA PRÓXIMA

Sai da maré um momento (Falei e então a lua olhou-me). Não sei se você que só gira desconhecendo me conhece por estar sempre girando. Mas já que giras, lhe explico que, por vezes, nem sei se giro mais que tu no alto. Uns amam mais Cabral de Melo. E mais o amam mais Alguns. Mas só Cabral se sabia. Seus lábios tinham ranhuras ...mas quem as contava com certeza de engenheiro? Sabia o tamanho de sua busca? Eu não sei se quero o simples compreender do avesso ao tudo. Eu só vou; busco e tropeço muito na palavra, inseto que me dobra a pele e a verga. (Falei pra ti? Gira.)

ZUMBIZANJO

Lá vem meu anjo - zumbi. Direita e esquerda arrastando. Só eu tenho um anjo assim? Quando preciso, ainda vem. Sempre chegando após mim. Aos pedaços. Sangue em jorros. Um membro cai aqui, ali. Uma vez perdeu nariz. Fui lá buscar o petiz. Outra, orelha e mindinho. Ainda outra, seu fígado. Achei na vala a costela. Pra distorcer-me a poesia, Meu anjo não tem mais bossa. Quando se tornou zumbi? ...Não lembro. Mais gordo o vi? Mas está melhor que era. Está bem melhor, te afirmo. Foi-se a fingida elegância. Fede mais que brava fera. Foi-se a nobreza excessiva. Não quer mais pente nem base. Nem usa mais cinto de ouro. Virou zumbi. Quando? E eu sei? Sabe, nem quero saber. Vem pra cá. Sente o fedor? Derrubadas suas costas. Tenho de ajeitá-las. Bosta. Sentiu-te o sangue na mão. Eis que acelera. Já era. Capricha na oração.