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ELE E ELA FORAM BONS

Ele foi um homem bom, mas de que vale ser um homem bom se a vida está pela hora da morte? De que vale ser um homem bom se a morte está muito bela para sujeitar atitudes? Ela foi uma mulher humilde, mas de que vale a humildade se o mar está encapelado há muito? Ele, sempre pronto a revisitar-se a rever-se a procurar respostas a ensaiar soluções, mas de que vale isso se o ato de pensar ficou agreste e o próximo segue o valor de mercado distante de possíveis? Ela tinha o espírito aberto, perseverava quotidianamente no hábito de sair ás cinco horas para a caminhada rente à estrada de ferro, da Igreja Matriz Católica até o final da Vila São José, mas de que adiantava todo esse esforço, se implicava na perda do tempo roubado de fazer um poema mesmo temporão que não poderia nascer em horário diverso? A ele tudo fascinava, quer um pássaro cego, quer uma palavra morta, quer uma música de asas reflexas, quer um cafezinho com amigos poetas, mas de que servia tudo isso, se tudo isso findava na rea...

WOLF HITLER E A AMADA EVA

Tudo começou em uma noite de outubro de 1929,  quando um senhor chamado Wolf Adolf entrou na loja onde Eva (futura Adolf) brincava de  Árvore da Vida mostrando suas costelas  e a amansar pássaros no ar.....  O patrão então mandou Eva ir comprar cervejas e tira-gostos em um lugar à beira do fosso. Ela voltou cantarolando Chopin e saltou aos ombros de Wolf. As costelas ardem no (des)corpo do fuhrer. E descansam suas cabeças, tanto a mulher quanto o lobo, em travesseiros recheados por cabelos de um judeu escolhido a dedo por seus pelos finos e ondulados como de um lobinho.

NÃO MEXAMOS COM OS CORPOS UNIDOS

Estão os corpos unidos, coloca um pouco de mel  e pele de anjo. Unidos os corpos junto ao muro, não sabem que noivarão, nem sabem que, para casarem, precisarão quebrar a cabeça para arranjar padrinhos de boa índole e que sorriam para fotos brilhantes as quais custarão os olhos da cara se forem pobres. Não mexamos com eles, com esses corpos bonitos  como a flor da aurora. Bebamos o vinho do tempo.

MAIS FÉ

O que posso desdizer, dizer do amor? Da dor? E daquele  ser-não-ser ali que pensa ser de merda sob cobertas, de cabelos sujos pedindo moedas pra comprar cigarro pra encher de birita a cara só birita sem mulher pra não dividir sequer. E daquele outro que é bom pai bom filho bom esposo. Trocou de crença e hoje é católico e ontem foi espírita e anteontem budista e atrás de anteontem foi ator pornô e chupava na esquina meninas maduras e comia vereadores perdidos e ex-prefeitos cassados, segundo um jornal fodido e fadado ao lixo. Não posso dizer do amor. Nem da dor. Nem daquele que beija umoutro. Ou daquela que beija umoutra. Nem daquele que beija um morto só por rima. Nem daqueles neutros posso dizer um tanto. Mas digo de teu rosto de deusa reles que um bem danado pros dedos fazem e que me limpam quando te sujo branca página me trazem mais fé .

ALMA DAS 23

Às 23 horas, saí à rua. Tudo tão deserto. Mas tudo tão tranquilo. Como se dormisse a alma do planeta. A cadela olhando à volta. As suas quatro patas fazem-se duas. Há uma intimidade dela com a lua. Não penso sobre o sentido disto. A não ser quando abro a alma.