Veio. O fogo perto ainda. A dor de suas mãos Caía em lindas chuvas, E todos lhe liam O desejo, fé, mergulhos Com a beleza de suas vinhas. Veio. Para os fatos, era O Fato. Sob a marquise, na moitinha, O cheiro da Suma Chuva, Longe do inquieto anseio, Parecia... Deus no espelho. A verdade é que ele veio a essa cidade velha. Quem era? O estrago Que me espelha, Escuro lago, seco Seio.
O poeta saiu do centro: dura figura. Saiu do cerne, esquecido e cruzou por fora. E lhe dariam um cargo em comissão no Inferno por ingênuos sonhos parricidas. Mas esses sonhos há muito alimentavam corvos de ironia... Assim: Voltou ao início das coisas. Flexível. Amoleceu, amorável.
Fui sonhando os peixes que pescava No oceano em cheiros que sentia Fui sonhando os peixes que comia Nas panelas com que o ser cozia Fui sonhando as espinhas esguias Que ao meu olhar engasgavam Fui entretecendo guelras Que em meu mar ressonavam Fui ficando um dique profundo Onde um pesadelo emudecia E forçando em ti meu fluxo Onde meiga morte seduzia, Reabilitei-me, chuvoso
Não te fies. Escrever é difícil. Fácil é a máscara. Está torto por dentro. Não te aproximes. Não faças barulho. Só por fora ele é reto. Está muito diferente. Não tem previsibilidade. Olha os tubos curvos em seu verbo áspero. Mordeu-se a invertebrada alma . O verbo reflete.
Elas dançam Nas pedras do abismo. Elas dançam, Nossas vítimas. O palco Nós, onde pontificam, Já lhes provoca cansaço? Não, elas rezam a deuses-pais nossos. Nos perdoaram. Elas, as herdeiras de nossos ossos. Sem elas, como aplicar nosso sadismo?
Quero tirar-te Dos meus ouv idos. Por isso o poema Que ouço agora É de uma voz inexistente, Destemido embora. Há poucos dentes Em meu juízo? É que o poema Em meus ouvidos É surdo e antigo, E os seus versos Vão repetindo Tuas mordidas. Quero tirar-te Destas retinas. Por isso o mundo que vejo e piso É de um poema a se rever, Cegado antes Aos sóis intensos De intenso fogo. Banhar-me em rubro Sem muita dança: Assim, esqueço Lembrança indócil. Imaginária? Quase não posso Viver e o poema que deixo aqui Adoentado de sonho e ócio Semelha o corvo De "Nunca Mais".