HÁ GENTE QUE SOFRE POR
Há gente que sofre
por falta de amor
a si mesmo.
Há gente que sofre
excesso de dor
de barriga por
comer torresmo.
Há gente que sofre
de fome e de sede
por brigar a esmo.
Há gente que sofre
por morrer o carro
em estradas enfermas
e
por ter prestações
todas na mesma.
Há lesma que sofre
por escorregar
quando não queria
sair do lugar.
Há gente que sofre
por ser magro e alto
como a sexta parte
dos gigantes,
gente que eu não conheço
mesmo.
Há gente que sofre
por ser gordo e baixo
como um terço
dos mergulhados
em desfechos.
Há gente que
por ser persona
jovem comete termos de
etarismos e ismos
meios inteiros.
Há gente que sofre
por não aumentar
a folha fecundando o
cepo.
Há gente que sofre
por morar no gelo
dos polos.
Há gente que sofre
por rachar os pés
com os pelos do chão
afiado feio.
Há gente que sofre
por achar que veio
a data do apocalipse
no eclipse de si.
Há gente que sofre
por saber que é tarde
cedo demais.
Há gente que sofre
por saber-se morto
ainda medo.
Tem gente que sofre
por querer justiça
para sua só a sua cerca.
Tem gente que move
textos verdes,
quem sabe sofra
florestas.
Domingo, um dia de algum abril É tarde e estou dentro de mim e de um ônibus, falo alto por fora num silêncio por dentro, bem atrás, de onde o cheiro reverbera, rodeada de uma porção de moscas humanas, de uma porção de coisas, uma mendiga entre sacos de plástico sorri sem nariz. . Uma outra mendiga finge ser madame, com um poodle de papel francês: caniche, com latido em bolhas, do imaginário desfiado em sacos plásticos de mercado. No lado esquerdo do ônibus, um ruela zé cospe nela seu cérebro podrelíquido. . Quando desço, desce a consciência comigo, caminha comigo desde há muito, a me ensinar que o excesso de perfume pode esconder uma alma empoçada. e vice-versa, ou quase.
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