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A A(DOR)ME(SER) Mores de I(a)raque ou (Af!)ganistão,

Não vou Onde há cheiro forte de costelas para os corvos Mores de I(a)raque ou (Af!)ganistão, Lá onde guerras vêm umas das outras, Em locais onde se ajuntam bandejas podres Com velho vinho e Santa Ceia para o ódio, Donde embebedam-se homens à custa De mulheres enterradas sem clítoris, Amolar-me em limo De alvejadas folhas, Talvez bem te engane minha poética ambígua, Mas não a mim, Aqui crucificado bebo de vida e morte Letras que juntei amistosamente no copo, Não vou lá

RAIZ

Vejo u'a mulher, seus olhos doem de serem belos, caminho então na direção dos seus cabelos crespos, ao rés da alma medos e mágoas, piso bem leve Não, na verdade, são cem em uma e todas vertem mil universos num só pescoço, traços de afetos que bem recebem ou receberam lábios com sede Abraço todas num corpo uno pensando em lagos que me afoguem bem afogado sobre o pescoço que beijo e sangro como uma fera de outra idade no tempo morta Vejo a mulher, sua pele em nuvem, clamando toques, retoques e sons chuvosos, toco em seus seios tão generosos por sob as vestes, não, na verdade, são cem em uma e todas despem suas auréolas Vejo suas pernas, gregas colunas, calores rubros mesmo na chuva, pego suas pernas e roço nelas como em cem outras, firmo suas costas, durmo em seu seio como em cem seios, teço-me os sonhos desde a raiz

VISTE, ESPELHO

Se tudo o que vejo parte daqui, como acreditar nas tuas falas, se o que causa escuros é de mim? Teu é o coração que não me atinge. Teu é o desprezo, ojeriza, asco. Tu me lanças o enigma da esfinge? Rastilhos de pus na pálpebra. Se tudo enxergo a partir de mim, por mais que sorrias, não me alegro, pois ao morrer, o tudo se acabará. Viste, espelho? Me escuta: o que em mim cresce jura inocência do crime de ego/refletir-te.

OS ANJOS PEGAM SUAS TROUXAS

Os anjos pegam suas trouxas. Não têm mais esperança. Estão em fuga. Não são mais os mesmos. Aquele jeito puro deles não existe mais. Aquele sorriso de cada anjo ganhou febre. Antes invejavam os homens. Agora invejam o Nada. Se ganhassem o Nada, Mergulhariam sem pensar em nada. O Tudo lhes cansou. Pegam suas trouxas e vão aos piquetes. Quando assaltados de pequena esperança, Pedem jornada eterna menor. Melaram de bosta as asas. E apontam o dedo médio pros homens Que os vêem quando sentam no meio-fio.

SIGO COMO UM SER DE SELVAS

Sacudo minha juba Como leo antigo Estico o pescoço De meu ser selvagem. Blasfemo da chuva Que dá fuga à caça. Pouco me adianto Com a vida às traças. Só as minhas moscas Me adoram, me entendem. Não há virgens selvas. Todas em ruínas. Vão-se as memórias De outros campos férteis. As patas me doem Como as lembranças Dos risos de Leocádia. Os dentes tremem nas gengivas. Meu rugido espanta menos Que minha amarga alma Claudicante a cada verso.