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A PEDRA

Uma mão joga uma pedra,
a pedra, lenta, sonda pássaros,
e curva o ar, se curvando,
de encontro a centelhas,
fagulhas de relâmpago,
sons de aviões a jato,
gritos fragmentados com escuros traços,
gritos de alegria com claros entornos,
e a pedra vai fazendo uma parábola,
parando um instante a que um matemático/físico tire fotos,
posando para um poeta antes de ser mais uma em meio ao caminho,
imaginando que possa atingir o espaço infinito antes da curva final,
a pedra curva o objetivo com destino ao rio da minha aldeia cubatense,
e quando atinge a flor da água vai em câmera lenta pelas pétalas dos peixes,
peixes bronzeados, com barrigas de tanquinho de óleo e águas servidas,
antes de atingir o leito do rio, a pedra sente o fluir das moléculas estrangeiras,
o frescor dos restos que negaceiam a boca dos predadores,
chegando ao fundo num cansaço extremo de quem já viveu tudo

Comentários

Dilmar Gomes disse…
Isso é poetar, meu amigo. É a multiplicação dos peixes. Tu poderias dizer: dá-me um palavra e eu criarei um poema.
Um grande abraço.

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É TARDE E ESTOU DENTRO

Domingo, um dia de algum abril É tarde e estou dentro de mim e de um ônibus, falo alto por fora num silêncio por dentro, bem atrás, de onde o cheiro reverbera, rodeada de uma porção de moscas humanas, de uma porção de coisas, uma mendiga entre sacos de plástico sorri sem nariz. . Uma outra mendiga finge ser madame, com um poodle de papel francês: caniche, com latido em bolhas, do imaginário desfiado em sacos plásticos de mercado. No lado esquerdo do ônibus, um ruela zé cospe nela seu cérebro podrelíquido. . Quando desço, desce a consciência comigo, caminha comigo desde há muito, a me ensinar que o excesso de perfume pode esconder uma alma empoçada. e vice-versa, ou quase.

O CURSO DO RIO

Sei que o rio deve seguir seu curso. Mas preciso descansar entre as pedras correntes, As pedras cristalinas de seus olhos. Gostarias, sei, que eu movesse para ti Diamantes com lábios, algo assim. Mas quero-te foder a toda hora Com meus instintos de pedreira em sêmen.

PERTO E LONGE SEM TI

Estar longe de ti somente um dia É muito, mas começo para ter-me. Estar perto de mim a eternidade Desequilibra a alma, se esquecer-me. Estar? dificuldade que me afia. Ser já é em dúvidas quedar-me. Vigio na intenção de não perder-me. É te largar um modo de encontrar-me? Voltar? Não posso. Está passando o tempo. Só não sei onde, sei que é mais destarte. Se o tempo pára, sei que paro em ti, Amando ausente, mesmo a festejar-te. Sim, bem-amada, deixa o ser chorar-te. Cruze por terras muito, embora tarde. Estar perto de mim a eternidade, Sem ti, é como estar longe da Arte.