Pular para o conteúdo principal

PRANTO DO ATOR

Assim, chorou o ator,
em primeira atuação,
quando o pano descerraram.
Na platéia, surda velha
escutava a todo pio.
Bateram em sua bunda,
de cabeça para baixo,
e ele chorou como nunca,
porém bem mais choraria.
Puseram na sala ao lado.
Ele ansiava por Ela,
a Diretora Geral,
Mãe de belos odres plenos.
Quando ela se aproximou,
carinhosa como sempre,
ele pulou com furor:
cravou gengivas de pedra
naqueles odres em flor.
Esvaziou-os até
ficarem murchos de dor,
só que se encheram de novo,
e ele esvaziou-os,
e eles bem mais inflaram,
e ele os desinflou,
branco espedaçado em sangue,
e assim foi se instaurando
um hábito inarredável
de mamar e desmamar,
sob o sol cotidiano,
cada ano seu de vida.
Terminou sem os tapinhas,
sem aplausos, ovações,
no mesmo leito que havia..
O teatro cheio de mofo,
A velha surda no estofo
E a comadre gris vazia.
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ANTIGO NA CHUVA

A chuva no sonho máximo de alisar coisas secas pouca vergonha usa no se exibir molhada, cai vertical, nua das nuvens principais, fragmenta o agregado princípio, enquanto percorro o bigode  como um ser antigo, o sonho de folhas ao vento com a guerra ao norte  ... E começo a estender a arma eficaz - a toalha do pensar com estratégia densa, onde golpes anencéfalos esquecidos há anos aparecem do nada  e se servem dando ordem unida  na frágil luz do teatro

O CURSO DO RIO

Sei que o rio deve seguir seu curso. Mas preciso descansar entre as pedras correntes, As pedras cristalinas de seus olhos. Gostarias, sei, que eu movesse para ti Diamantes com lábios, algo assim. Mas quero-te foder a toda hora Com meus instintos de pedreira em sêmen.

MINHA NARRATIVA FINDARÁ

A narrativa é igual vida. A ausência de narrativa é morte. (Tzvetan Todorov) Minha narrativa findará. Não Foi tão boa. Não foi tão ruim. Será? Enfim, Como disse um (eu)migo: Tá ruim pra todos os pés. Meu pé dói pra alho caro. E sorrio Dolorido de pensar No ponto do borrão com que posso Pular no lombo-narrativa e criar O início. Não devo Parar a narrativa. Os órgãos clamam: - À morte !!!! À vida !!! O ser se finge de surdo E escreve-se entre as exclamadas.