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A MENDIGA DA NAVE DE PLÁSTICO II

De qual paraíso ou planeta ela veio,
eu não sei ao fim e ao cabo.
Um lugar onde ninguém ousou ir?
Não de Atlântida ou de Xanadu.
Mas, sei que passeia entre latas-meteoritos.
E que não tem emprego, afeto, skate.
Conhece toda a cidade quando acorda
para esquecer quando se deita.
Se alimenta com as pombas.
Banha-se com os sapos.
E aposta cuspe à distância
com ratos e colibris.
Já a vi comer das mãos inseguras
de uma senhora com bengala
e de emaranhadas barbas sombrias.
Sim, seria uma boa empacotadora.
Cata sacos como ninguém.
Se veste de modo independente.
Se quer mijar, faz no canto da Igreja
Bem na madrugadinha escondidinha.
Conseguiu a permissão dos santos.
A família Santos dona do terreno
não deu permissão mas deu fogo.
Ela é uma astronauta urbana.
Sacos plásticos compõem barulhentos
o recheio de suas cinzentas roupas.
Há cheiro de merda e urina e incômodos
quando ela anda e desanda e tresanda.
Ontem, a encontrei num ônibus.
Isolada e feliz mendiga em craca.
Que mistérios de Física Quântica
guardará em seus plásticos?

Comentários

Dilmar Gomes disse…
Amigo Natan, ao ler este poema, me ocorreu que se Augusto dos Anjos vivesse hoje, os poemas dele seriam semelhantes a este que tu escreveste.
Um abração. Tenhas um bom dia.

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