Pular para o conteúdo principal

MEFISTO E FAUSTO DE DENTRO

Um dia Fausto me chamou

Para tomar um formicida.

Era dos bons, ele falou,

Daqueles que fazem da Vida

Uma experiência singular.


Eu fui com ele pela Alma,

Na esperança de chegar

A uma síntese completa,

Uma verdade cavalar

Que fosse do Amor a seta.


Fomos andando meio tontos.


Eu, Pensamento Objetivo,

Com muitos erros, todos prontos,

Surgidos no antro da Razão,

Pretensa em Ciência e frios pontos.



A dor surgiu, Fausto chamou-me

Para tomar Morte com Vida.

Bebida boa, de primeira,

Que deixa a mente tão sentida,

Que nem tomei a saideira.


Eu fui com ele pela Alma,

Esta eterna inconquistável.

Que mesmo arcando nossos traumas,

Nos torna a angústia mais amável

E dá-nos consciente calma.


Fazia o formicida efeito

Contra verdades acabadas,

Que nos destroem o frágil peito

Com sua falta de risada,

Dança e cantares bons de jeito.


Chegados na encruzilhada

Da parte d'Alma mais incerta,

Vimos uma Casa Cinzenta

Meio fechada, meio aberta,

E à frente uma Fera Sedenta.


Batemos palma com vontade

Pois parecia a salvação

De nossa gleba interior,

Misto de Benção, Maldição,

Painel de Gozo e de Horror.


Eis que o Dono sai lampeiro,

Com sua face meiga e dúbia,

Não nos promete solução,

Mas sim bebidas mais intensas

Com inquieta solidão.


Mefisto o nome desse Dono,

Que abraçou Fausto com vontade,

Eram amigos desde o tempo

Da meu logismo inicial,

Quando era o sonho fumo intenso.


E esse fumo financiava

Famosos crimes hediondos

Contra o Real, que traficava

Na cara de meus mil sofismas

As vãs verdades dos escravos.



Fizemos lauta refeição,

Ficamos todos irmanados,

Além do Bem e além do Mal,

Em meu espírito cansado

De rejeitar o Irracional.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

QUE ENOBREÇA OS OLHOS

Seus olhos são nuvens com versos, caravelas e peixes. E eu sou uma ressaca marítima. Há sede debaixo de meus olhos. Há demasiada ansiedade em minhas naus de ondas. Não há vestes a proteger do frio. Não tenho muitas saídas, você sabe. Tenho de ser peixe. Estou uma confusão só. Sou um coral de crises. Sou um rodapé por uma estranha corrente. Talvez se me entendesse, poderia ser Netuno. O forno pifou quando eu planejava a queima sagrada. E a casa envelheceu na árvore da chuva que cai pesada. Há chuva que melhor que esta enobreça os olhos?

VOCÊ TEM HONRADEZ

Você tem honradez? Batizo uma mosca de honradez. Uma mosca tem seu próprio conteúdo, Um ser humano tem conteúdo mental com falhas. Um ser humano mata milhões de uma vez só. Uma mosca.....mosca "estro"..... . Você faz tratos, contratos, em troca de algo. Você dorme com tranquilidade. Você e eu. Já temos a pena que não nos compete. Vivemos 60, 50, 40....mas 70 é pouco também. Com 50 temos saudade do antes do corpo decair mais rápido. Honradez : ter justiça, seja: fazer jus. A seu tempo sobre a terra. O outro lhe interessa ? Contratos Tratos lhe distanciam De algo que humaniza. E lhe aproxima do espírito das guerras, Eu nonada non adan. Em cima da mesa, Duas moscas amam trepam morrem (Há um quê de Hades na trepada).

ARAKEVE NUNCA MAIS

VERSÃO sexta-feira, 3 de março de 2017 ...ARAKA’AEVE NUNCA MAIS, inspirado em poema de Edgard Allan Poe - The Raven (O CORVO) e em Eros e Psiquê, de Fernando Pessoa ...Meia-noite? Não sei bem, era horário de verão. Folheava um livro raro, letra barroca e fininha. Meu corpo todo doído debruçava sobre a mesa. “Ouvi o som do interfone?” Estiquei-me. Dor na espinha. “Quem toca meu interfone?” Logo atiça a dor na espinha. Quem vem com seu nhenhenhém?”. Foi no início de setembro. Meu aniversário, eu lembro. Não paguei a luz. Velavam velas várias na cozinha. Esperava o sol, o dia. E a noite me tragava, A leitura me enjoava, só lembrava de Amelinha Ancorado no cais longo da memória...Amelinha !!! “Quem vem com o seu nhenhenhém?” A cortina na vidraça balançava, para horror Desta herdada arritmia que ao peito desavinha. Ouvi de novo o interfone por vagarosos segundos... “É cliente atrasada??? A fofura da vizinha? Como puxa meus lençóis! Ela é uma vizinha Bem versad