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ELES OS GORILAS SOBREVIVERAM

Eles sobreviveram, guardaram como recordação as tenazes para dedos, ocultaram em cima do guarda-roupa a guilhotina portátil, a forca automática, a metralhadora oculta num disfarçado guarda-chuva-e-sol.
Saem de manhã como o cachorrinho azul, depois, à tarde, voltam para suas casas, beijam faces familiares, tomam café com pão-de-queijo, talvez, ou tomem os netinhos no colo, emocionados com as possibilidades de seus futuros, querendo viver mais uns doze anos para vê-los cursando Direito ou Medicina ou Odontologia ou comendo rabos de saia debaixo de pontes e edredons sob os olhares de seus Capitães-do-Mato.
Como são belos esses velhinhos com caras de céu e corpos de jardim de plástico!
Como são frágeis seus passos sem culpa!
Como são saúdaveis com suas refeições de horas certas!
Estão uns anos a mais, quase morrendo, e esperam mais doze, em Deus pela Pátria e Liberdade, devorando muito ferro e zinco da Nova Culinária.
Vez em quando, um desses velhos apanha uma cadeira daquelas bem seguras que recebem seu peso sem reclamar, tranca o quarto, eleva a mão direita enrugada em seus vários rios de sangue, amarra um inseto, desinfeta seu pescocinho e lança mão de sua guilhotina portátil, enquanto exibe ao nada seus implantes dentários.
Sobreviveram, medem quase um século, jogam damas em nossas praças de velhos ridentes, inermes e inofensivos, dando xeques-mate como as velhas ordens que davam de moer várias cabeças em seus liquidificadores.

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