Pular para o conteúdo principal

DEZESSETE

Minha filha quer:
- Dezessete livros, 
pai, pode me dar?
- Por que não quer vinte?
-Porque não, papai.
- Serve um, ou dois?
- Dezessete ou mais.
Para o aniversário 
devo arrumar.
Dezessete anos
ela já fará.
E aos preços todos
Devo coligir.
-Pai, eu posso ser
escritora um dia?
Claro, minha filha.
Se empregar tu'alma
com sonho e porfia.
Muito valem livros
pra entender que os dias
de mortos e vivos
são indiferentes
à nossa alegria
e compreender
que há luz no traço.
Dezessete anos!
Dezessete livros!
O tempo passando
e eu ficando antigo,
parca biografia
pra livro ou valia
de espelho ambíguo.
Mas estou feliz,
embora ainda caia
como um aprendiz.
Devo lhe dar, sim,
dezessete obras.
Livro à alma afia,
Com vulcão de sobra.
Eu a amo, sabe? 
Este amor me guia.
Há no meu destino 
cansaços sem trilhos.
Nessa estrada há ferros,
trens de acerto e erro.
E também mentiras
Que me juro aos berros.

Dezessete livros,
dezessete anseios...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O CURSO DO RIO

Sei que o rio deve seguir seu curso. Mas preciso descansar entre as pedras correntes, As pedras cristalinas de seus olhos. Gostarias, sei, que eu movesse para ti Diamantes com lábios, algo assim. Mas quero-te foder a toda hora Com meus instintos de pedreira em sêmen.

É TARDE E ESTOU DENTRO

Domingo, um dia de algum abril É tarde e estou dentro de mim e de um ônibus, falo alto por fora num silêncio por dentro, bem atrás, de onde o cheiro reverbera, rodeada de uma porção de moscas humanas, de uma porção de coisas, uma mendiga entre sacos de plástico sorri sem nariz. . Uma outra mendiga finge ser madame, com um poodle de papel francês: caniche, com latido em bolhas, do imaginário desfiado em sacos plásticos de mercado. No lado esquerdo do ônibus, um ruela zé cospe nela seu cérebro podrelíquido. . Quando desço, desce a consciência comigo, caminha comigo desde há muito, a me ensinar que o excesso de perfume pode esconder uma alma empoçada. e vice-versa, ou quase.

ANTIGO NA CHUVA

A chuva no sonho máximo de alisar coisas secas pouca vergonha usa no se exibir molhada, cai vertical, nua das nuvens principais, fragmenta o agregado princípio, enquanto percorro o bigode  como um ser antigo, o sonho de folhas ao vento com a guerra ao norte  ... E começo a estender a arma eficaz - a toalha do pensar com estratégia densa, onde golpes anencéfalos esquecidos há anos aparecem do nada  e se servem dando ordem unida  na frágil luz do teatro