Pular para o conteúdo principal

UMA ENCOMENDA (OU A RESPOSTA MATA)




Encomendei uma torre.
Chegou há pouco.
Barulhos tremendos ouço.
Ela se parece com uma caixa comum,
retangular, paredes laterais,
baixo, cima, bem vedada.
Bato nela com o punho.
Mas nada. O barulho tá lá.



Me lascando os ouvidos.
Não vejo a mínima fresta.
Que merda é essa? O quê?

Bem, merda vem do latim.
Pejorativa, quer dizer caralho.
Merda é muita coisa: polissêmica.
A gente digere e o que sai
É expulso pelo ânus (cu),
Se este estiver vivo (pisca pra ver).

O barulho é como de um choque de mistério.
De alguma coisa enganchando noutra.
...Se eu abrir a caixa acabará?
É que pessoalmente começo a gostar.
Começo a gostar de não abrí-la.
A gostar da tortura que causo
Em estranhas criaturas concentradas,
Querendo sair e eu não deixando.

Desleixo. Saio e deixo ela em casa.
Tenho de ensaiar uma peça que me quebra.
Nunca ensaiei uma peça que me quebrasse.
Essa foi foda. Quase me perdi. Não, me perdi.
Estou perdidamente apaixonado pela paixão
Que tenho ao dentro dela antes de vê-lo.
Louco isso. Louco. Como gostar do amor
Antes que se ame o objeto que o vibre.

Volto a casa antes do sol acabar.
A caixa ainda está lá. Um rasgo agora.
Ponho o dedo e sou picado.
Rasgo a caixa, irado como um soco.
Olho o que há dentro: letras e mais letras
Saem dela pra meu pensamento.
Jogo no lixo a caixa vazia. Estou cheio.
Acabou-se o mistério. A resposta mata.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ANTIGO NA CHUVA

A chuva no sonho máximo de alisar coisas secas pouca vergonha usa no se exibir molhada, cai vertical, nua das nuvens principais, fragmenta o agregado princípio, enquanto percorro o bigode  como um ser antigo, o sonho de folhas ao vento com a guerra ao norte  ... E começo a estender a arma eficaz - a toalha do pensar com estratégia densa, onde golpes anencéfalos esquecidos há anos aparecem do nada  e se servem dando ordem unida  na frágil luz do teatro

O CURSO DO RIO

Sei que o rio deve seguir seu curso. Mas preciso descansar entre as pedras correntes, As pedras cristalinas de seus olhos. Gostarias, sei, que eu movesse para ti Diamantes com lábios, algo assim. Mas quero-te foder a toda hora Com meus instintos de pedreira em sêmen.

HÁ GENTE QUE SOFRE POR

HÁ GENTE QUE SOFRE POR Há gente que sofre por falta de amor a si mesmo. Há gente que sofre excesso de dor de barriga por comer torresmo. Há gente que sofre de fome e de sede por brigar a esmo. Há gente que sofre por morrer o carro em estradas enfermas e por ter prestações todas na mesma. Há lesma que sofre por escorregar quando não queria sair do lugar. Há gente que sofre por ser magro e alto como a sexta parte dos gigantes, gente que eu não conheço mesmo. Há gente que sofre por ser gordo e baixo como um terço dos mergulhados em desfechos. Há gente que por ser persona jovem comete termos de etarismos e ismos meios inteiros. Há gente que sofre por não aumentar a folha fecundando o cepo. Há gente que sofre por morar no gelo dos polos. Há gente que sofre por rachar os pés com os pelos do chão afiado feio. Há gente que sofre por achar que veio a data do apocalipse no eclipse de si. Há gente que sofre por saber que é tarde cedo demais. Há gente que sofre por saber-se morto ainda medo. Tem ...