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HUMAN DEATH, VILA SOCÓ, GUERNICA




Recordo o ar febril, o chão tremente...
Uma alma só não dá para o recorte,
Carece de outra alma se lembrando.

Na Vila Socó,
Tupiniquim Guernica
Entubada de petróleo,
Revejo o arrasto
Do cheiro sobre as gentes,
O perigo anunciado,
A venda da gasosa
Que vazava, sem cuidado,
Gasosa Petros, a Grande Prosti
Sangrava, himenóleo devastado.

Uma só alma não basta pra rever,
Carece de outra alma em fortaleza...
Revejo a agudeza
De sonhos-salamandras
A avançar na vila sem casas,
Amontoando leitos na madruga,
Onde o poder deitou,
Se ausentando, avaro,
No início da queimada
Em gozo.

Minha alma, relembrando,
Perde o brilho,
Ouvindo tantos prantos
E o demônio os remexendo,
Moças, crianças, em roda enegrecida,
Em cinza o céu doendo, em uivo eivado.

Inábil sou demais para a lembrança
Do que tornou a vila em matadouro,
Intenso como em quadro de Picasso,
Onde Guernica, flor dos bascos,
É dor em tintas.

Em seu sofrer de carne
Incinerada,
Em lagos-labaredas
Mal-formados,
Só à visão do inferno
Equiparada é a nossa vila.

Também lá em Guernica
Mal pressentindo mortíferas rajadas,
O povo sonhos escandia.
Nacionalistas xingavam rubros,
Embora estes quase brancos.

Quando vieram,
O chão uivou, dolorido,
Com mães sofridas entre acordes
De fúria franco-hitleriana.

E aqui a omissão
Tornou nossa Socó em matadouro,
Em seu sofrer de vida incinerada.
Onde o Picasso nosso?
Nosso cavalo mutilado
Seria um fusca em salamandras?
Um cão todo em bloco-carbono
Com uma bonequinha usada?
De pelúcia feitos ambos?

Uma grávida estátua
No Tempo-Espaço tatuada
Por mãos de insano artista.
A alma dos barracos
Chamuscada na tela
Da cidade agonizando.
Um homem a guardar as próprias filhas
Na geladeira desligada.
Mulher a atirar ao rio oleoso
Seus filhos para salvá-los todos
Do calor excessivo da fornada

Outros úteros pediam gelo
Para estancar as cinzas
Da alma esgotada.
Nos muros riscos de óleo :
Funéreas margaridas.
Setecentos mil litros perdidos
De gasolina cara,
Noventa e três vidas mal-contadas,
No oficial baratas.
Falam de um anjo de extermínio
Que ali mijava,
Após beber no Bar
Petros/Lucrack.

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