Pular para o conteúdo principal

NÃO PERCA TUA ALDEIA DE VISTA (PARA LEONARDO SÓ)

Estás voltando para tua aldeia,
depois de tanta luz e tanta sombra.
Mais sombra e luz ainda virá.
Para isso fomos feitos:
para os defeitos das virtudes
e para as virtudes dos defeitos.
Como Ulisses retornou à Ítaca,
depois de enfrentar os monstros em si
e fora, de arrostar o deus invejoso,
os feitiços do amor.
Estás voltando à aldeia.
Lá o espera o quê?
Mais esperança?
O primeiro amor?
Últimos amores?

Não pecaste contra o céu.
Não és indigno tanto assim.
És humano como a glória de o ser.
Os porcos são grandes professores.

Um aperto no coração?
Gastaste sem temperança.
Beijaste os lábios das egípcias
que se davam nos becos,
comeste o manjar
das hetairas modernas de São Paulo,
empurraste a vida nas paredes,
na ânsia de perpetuar-lhe o prazer.
Vestiste o melhor da Fenícia.
Calçaste sandálias de legítimo couro.
Mas tudo é tão efêmero.
Mas tudo é tão efêmero.
Sobreveio uma grande fome.
Teu coração teve fome de amor
e estás voltando para tua aldeia.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O CURSO DO RIO

Sei que o rio deve seguir seu curso. Mas preciso descansar entre as pedras correntes, As pedras cristalinas de seus olhos. Gostarias, sei, que eu movesse para ti Diamantes com lábios, algo assim. Mas quero-te foder a toda hora Com meus instintos de pedreira em sêmen.

É TARDE E ESTOU DENTRO

Domingo, um dia de algum abril É tarde e estou dentro de mim e de um ônibus, falo alto por fora num silêncio por dentro, bem atrás, de onde o cheiro reverbera, rodeada de uma porção de moscas humanas, de uma porção de coisas, uma mendiga entre sacos de plástico sorri sem nariz. . Uma outra mendiga finge ser madame, com um poodle de papel francês: caniche, com latido em bolhas, do imaginário desfiado em sacos plásticos de mercado. No lado esquerdo do ônibus, um ruela zé cospe nela seu cérebro podrelíquido. . Quando desço, desce a consciência comigo, caminha comigo desde há muito, a me ensinar que o excesso de perfume pode esconder uma alma empoçada. e vice-versa, ou quase.

ANTIGO NA CHUVA

A chuva no sonho máximo de alisar coisas secas pouca vergonha usa no se exibir molhada, cai vertical, nua das nuvens principais, fragmenta o agregado princípio, enquanto percorro o bigode  como um ser antigo, o sonho de folhas ao vento com a guerra ao norte  ... E começo a estender a arma eficaz - a toalha do pensar com estratégia densa, onde golpes anencéfalos esquecidos há anos aparecem do nada  e se servem dando ordem unida  na frágil luz do teatro