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TRAVESSIA NOVE

(Urbana Paisagem)

Corta a cidade, a atravessa,
a grande avenida, como um pensamento
atravessado por uma malícia,
a avenida lembrando um fio de carícia
no rosto da cidade, o sexo a penetrar
a cidade, a grande avenida nove,
serpente de asfalto e fome,
fome de pneus, de calçados
de corredores, calçados de madames,
moças, pés descalços, pequenos ratos,
cachorros, acidentes, paradas, desfiles,
a grande avenida nove,
com história de escravos atrás de si,
corta a cidade a nove como o rio de João,
o talhe de Maria na carne do tempo,
como o sonho de Martins furando o real,
como a moto no corredor, atalho
à minha pequena casa-cidade,
onde pérolas nascem e renascem
no coração da concha-lar

O sangue da cidade nessa grande avenida
empoeirada e melada de ambições, ideais
concretos, ou de concreto, asfalto, fezes de cachorro,
uma grande cauda de um extremo a outro,
uma grande cauda de vestido azul,
quantos exploradores ali perpetraram
assaltos legais e ilegais, jogos de
avenida-cobra-tentadora-arrebatadora,
onde as luzes bailam na noite,
seu cheiro do nada-tudo humano,
circunferências, engenhosos relógios
no pulso de suas artérias,
mulheres e homens, mendigos astronautas,
borrifam de humanidade os sapatos
dos anjos transformados,
os dedões dos jovens escuros
de tanto beber as noites,
febris ostras de caos

Mas dizem que há esperança

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