( Urbana Paisagem) Corta a cidade, a atravessa, a grande avenida, como um pensamento atravessado por uma malícia, a avenida lembrando um fio de carícia no rosto da cidade, o sexo a penetrar a cidade, a grande avenida nove, serpente de asfalto e fome, fome de pneus, de calçados de corredores, calçados de madames, moças, pés descalços, pequenos ratos, cachorros, acidentes, paradas, desfiles, a grande avenida nove, com história de escravos atrás de si, corta a cidade a nove como o rio de João, o talhe de Maria na carne do tempo, como o sonho de Martins furando o real, como a moto no corredor, atalho à minha pequena casa-cidade, onde pérolas nascem e renascem no coração da concha-lar O sangue da cidade nessa grande avenida empoeirada e melada de ambições, ideais concretos, ou de concreto, asfalto, fezes de cachorro, uma grande cauda de um extremo a outro, uma grande cauda de vestido azul, quantos exploradores ali perpetraram assaltos legais e ilegais, jogos de avenida-cobra-tentadora-arr