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Mostrando postagens de 2015

O AMOR DOS MAUS

Hitler teve uma mulher que o amou. Mao teve uma meiga namorada. O ditador Franco fazia poemas incomparáveis e ridículos de amor. Idi Amin, antes de comer crianças, fazia declarações e amava sua mulher. Antes de morderem, As amadas lhes diziam ternuras com incêndio orbitando nas flores do sexo. Como entender o que é difícil?

MORDENDO O MAXIXE

Mexe o corpo, minha gente, Que isso lembra o maxixe. Lundu, polca, habanera, São avós deste sambuíche. Canta lá, trovão, Vê se fala manso! Cê tá sem noção, Grande manipanço? Em todo samba e lambada, O maxixe é relembrado, Calorosos nos meneios, No jogo do rebolado. Mas te amo, veja. Se te faço inveja, Faça assim também, E me ame ou nem! Cupido foi bem criado, Por entre abelhas cresceu, Mas tropeçou no maxixe, Sua alma enlouqueceu. Por isso, essa dança Arrocha no eu, Parafuso e rosca, No claro e no breu.

PARA LÚ OLIVER

Lúcia Luz Que ilumina estes cômodos De alma com umidade, Onde o espaço grassa E mete as unhas. Luz Lúcia Luz Que segura meus telhados Antigos que se desfazem Sobre caibros milenares E verdes e tortos. Lúcia Luz luzindo, Estou de novo em França Onde era  Um tronco rugoso e barbudo E te atravessava com  Espinhos enciumados melados na seiva Da paixão doentia. Lúcia Que ilumina este quintal, Onde uma arca se abre E recebe minhas feras Que herdaram da Idade Média Patas que te marcam com misoginias Religiosas.  Estou encarnado aqui Neste lodo de grafite, Com a alma apalavrada Em sintaxes preguiçosas. Te digo: A arca navega Sobre o sangue do tempo E o poeta apenas vai sendo levado Pelo papel onde cola espelhos.

DAS BEIRADAS DA INQUISIÇÃO

Das beiras dos bosques onde receitaram rezas para o fígado e o coração, ervas para a febre, a erisipela, e outras dores (in)conexas, das beiras das piras onde queimaram, por terem cabelos vermelhos, ou uma mancha sacra nos joelhos, das bordas dos homens que lhes odiaram, e lhes romperam, dessas bordas ficaram sem vingança nos tanques, servindo religiões  de seus homens, que falam de um Grande Homem que as julgará, com Seu Filho, que lhes olhará, sem culpa, com as órbitas de olhos amorosos prendendo-as em conceitos de Heroínas do Lar, sacrificadas ao eterno amor

NA ORELHA DOS FATOS

Lá longe no escuro na avenida a meio amigos de infância se roem e cheiram nos banheiros fétidos Uma jovem vem cambaleando de seus quinze anos se imaginando a super-modelo, enganando a todos no celular brincando com as consequências do faz o que tu queres Seu anjo-mau foi no lixo da esquina e já refocilou seus neurônios no mesclado As luas de seus sonhos são sentimentos maternos com leite vazando dos seios pinos de coca em fratura exposta A noite avança escura e clara como um ovo sideral estalado na face da galáxia Ela vem em minha direção e a cadela no fim da corrente me avisa antecipadamente da sombra que almeja devorá-la Em seus olhos os pássaros da náusea dão nódoas com papelotes e ervas e a dor canta qual contralto nas orelhas dos fatos

PARA AKHMÁTOVA

Seu primeiro marido fuzilado. O segundo com tísica. Seu terceiro marido concentrado num campo. Para eles a volta ao pó? Tenho o direito ao superficial fervor? Seus passos nos espinhos do Gulag. Sua poesia a se vender por amor. Para ela a volta ao pó? Seu primeiro poema em Leningrado. Os seus muitos xales do agrado de quem por si se apaixonou. Sua poesia-sentimento. Para eles a volta ao pó? Hoje tem poeta que só gado. E tudo que eu sei é superfície. Mas quem sabe mesmo do mar profundo? Mas há quem diga conhecê-lo. Palmas pra eles que o teorizam. Todos eles querem saber e o amor sempre exigente do leitor com o seu espanto. Para eles a volta ao pó? São os versos de Ana banhados de dor qual Florbela dando assim mais força à Dor Maior. Desde o nascimento, ou pouco adiante, sofreu a beleza até o fim, desatando distâncias por dentro. Para mim, o pó se aproxima. O cachorro está alimentado. Com correntes, perdido para Libertas. Vira-Latas. E eu escuto a pretensão no vídeo cansativo do crítico

O FEICE FELIZ

Olha só como estou feliz. Tudo dando certo. Diz o feice azul. Olha só como infeliz Contador mostra o seu nariz. Olha só o selfie. Meu louco sorriso. Leve e deformado.. Tudo é muito fora. Dentro é muito pouco. Esta é minha mãe. Meu pai, meus avós. Esta é minha casa. Estas - minhas asas. Cães na casa ao lado. Mostro tudo a vós. Tudo é muito fora. Facebook o morto Ao qual maquiamos. Luz só na caverna.

FLUTUANTES

O sol sentido pelas frestas da janela. O prazer de dar bom-dia a torto e a direito. O prazer de sair sob o vento. De sentir as ondas de vida no espírito. De sentir as ondas de mar nos pés. De comer comida quente Junto ao velho livro sem capas. Passear com o cão. O tempo suando em lugar nenhum, Ficar sentado perseguindo o nada Com preguiças acumuladas, Como asinhas soltas de moscas anciãs Flutuantes. Trabalhar dobrado, estressar, No olhar amado permanecer Ou se reconstruir em seu sexo. Prazer até no desprazer De se prezar finito e continuar.

LÁ UMA CÁ OUTRO

Lá uma Cá outro Um trisca o Outro bisca Por fora Por dentro Paradoxos Concêntricos Lá uma Cá ó Embora Um só Sós, sem periscópios, Petiscam na esquina Os ossos dos copos A horas mortas E nascem e vivem e dormem Na página zero do livro urbano Chamado Inconsciência

ALMA ENDIVIDADA

Sempre há diferentes reinos. E um homem por vezes é um trono em que algum deus senta. Um cão fareja a toda a hora o que o homem é. O focinho de um cão é a sua mente humana. Por farejarmos com a mente, lati-pensamos muito. O tempo vai escoando enquanto isso. E alma endividada desespera : perdeu, perdeu! Acaba sendo assassinada pela Estrada.

VÍCIO

Eis os traços negros Espelhando a morte. No urbano manto A nódoa e o corte. Eis a rua e o roubo E o rumo e o susto, O escrito avança No espaço a custo. E assim escrevo Esta noite, e a deixo. O humano esguia Do interno eixo. E um poeta gira No eterno vício De escrever a vida Sobre um precipício.

NOVO NAPALM

Vidas no termo de e entre outras, o mundo é um tecido transparente, as nuvens chovem chumbo  nos campos de guerra, onde dores superam as minhas  com vestes de um novo napalm e barragens rachadas, nos pés o terror de paris

CONSCIÊNCIAS FRI(T)AS

Os rios e suas carícias nas pedras ante olhos vegetais, os espelhos dos céus enfermos de estireno e os peixes guelras lacrimejam enquanto acabam o canto morto do peixe outrora vivo : como pode o peixe morto despertar consciências frias?

LOUCURANCICE

Os poemas por dentro parem grávidas perguntas. Conceitos são adultos relevos, vermes? Abrasado, sou líquido. Sede de ser pós-conceito. E descobrir quem pariu Loucura quando o tempo era pequeno e brincava com Amor. Sede de quando ela nasceu em mim. Por seus vestígios ou bactérias De mãe sábia.

A LUA CANTANDO

esta noite como anseio a lua cantando aos pássaros... isto é o que dizem sempre os poetas até que o fato espedace a lua de tanto aperto trágico desde o ano um da espécie mas há sempre o pensamento como farol na ilha do humano guiando os navios da história

ME ABEBERO

me abebero deste sumo de dias espelhantes nos olhos e sigo não posso quebrar em cada ser que vejo pupilas de água e sal ando com cuidado as almas quebradiças o corpo andando atravessado na beberagem dos saudosos passos graal tempo cálice insone

MORAL POLUÍDA

de um momento de moral poluída observei-os saindo olhavam politicamente abraçavam-se politicamente sorriam indo para o almoço sorriam sem parar cheiravam maconha próprios-interesses marca usual nestes dias esquecidos da morte que rondava em disfarce seus pulmões e lambia suas carnes

SE VIEREM E PERGUNTAREM

se vierem e perguntarem : o que é o poema? despejo o cheiro do silêncio por aqui há rios de artérias e veias e a vida é sangue e abstração temo ter que falar sério desta árvore com raízes-versos-ridentes com medo de críticos e adubo de nada

POR HELENA

Fausto é um desejo de alguns atores. Mefistófeles é um desejo de alguns atores. Tudo por Helena. Helena, a beleza mítica. Aquela cujo gozo é insaciável e incessante. Como a morte. O palco abre-se por Helena. Certos atores adoram pactos. Principalmente pela beleza em cena. Helena é um símbolo. Uns dizem que é mentira. Como o teatro para alguns.

PRA NÃO MAGOAR

Não, meus ombros não suportam nada. Sequer me suportam. O mundo não paga a pena. Monteiro Lobato está vivo em cada gota de petróleo. Meus ombros doem só de sentir o peso do ar. Há homens bons e maus. Há mais notícia dos maus. Meus amigos não me perdoam. Meus amigos me perdoam. Meus inimigos são fracos. Tão fracos que são amigos do peito. Ontem, sobre os ombros coloquei sonhos novos. Ainda sonho. Leve pra não magoar.

AS BARATAS SOBREVIVERÃO

As baratas sobreviverão. Talvez, segundo dizem. O meteoro cairá, segundo falam. Talvez. Talvez eu vá comer uma feijoada em algum lugar entre o Português e a casa de Inês de Castro. Talvez eu regue as plantas nos vasos. Está caindo.

AQUI JAZ A ESMO

Epitáfio: aqui jaz o poeta que não deu apoio a si mesmo, aqui jaz modelo-aboio dos bois a esmo, aqui jaz o tolo que não comeu as lesmas do bolo dos sonhos, aqui jaz um corpo que faz a terra ter enjôos por não ter resistido mais às cuspidelas do coro

COMO AVES E PÉROLAS RABISCOS

Palavras vão como aves-vento, pérolas nascem quando chegam boas nos corações. E não fazem rios que se repetem. Rabiscam-nos muito e são como soldados calados ou não. Cada poema é um lutando uma batalha para muitos. Um soldado para confrontos sensíveis.

ENTENDER AS COISAS

Entender as coisas. Desentendê-las. Abusar da liberdade com as frases. Amassar o papel mal escrito. Amassar o pássaro branco com asas de dedos. Minha biblioteca está cheia de almas. Cada página é um céu. Mesmo num livro científico. Somos seres para folhear.

A MÃO - LAGARTIXA

A mão como lagartixa subindo por um retrato de corpo inteiro de uma musa que sorri fazendo propaganda de mais uma iniciativa governamental que trará menos empregos que o necessário que fará despencar ações na bolsa e planejará guerras para estimular a hemoglobina das fábricas que alimentarão o aço dos canhões o pano dos uniformes e as árvores dos livros sagrados servindo jovens nos banquetes de guerra A mão não sabe nada a não ser a beleza da musa que a esta hora pode estar espantando seu tédio pulando de um...não, não vou falar prédio

ESTAQUEAMENTO DO AMOR

Minha cadela honesta, cumpridora de seus deveres caninos, se pós graduou em cheiros diversos; especialista em perfumes acantonados, cheira becos, frestas, papéis, esquinas, vértices, esferas, paralelogramos urbanos, buracos, narizes, cotovelos, dedos, mãos, cocôs, xixis, pés de mesa, de cadeira, cabelos, e cada vez que caminha, traça junções, lambendo pedras meladas restos estradas atenta a todas as direções estendendo narinas aguardando o momento de chegar e de avistar ao longe a porta as colunas ao lado a essência dos donos que estabelece lembranças o sustentáculo em cima do aconchego o estaqueamento do amor em ração carinho e água e passeios até que ela durma em casa num simulacro de marquise como a do mendigo que anoitece e me pediu cigarros que não dei por não fumar eu costumo negar cigarros com prazer

RAULZITO

Senhora Dona Persona, E toda gente, me escutem: Nasceu em solo baiano Como Raul Seixas Santos Nosso maluco beleza. Fez-se lobo “kavernista” Em sessão das dez, uivando, Derrubando sopa em mosca, No luar de si pairando. Tentou o ouro de tolo, Mas não quis esse caminho, Embora cheio de sorte, Pois seu sonho sob os astros, E sob a luz foi mais forte. Ao luar ele fez vôo Raso, largo e bem profundo. Fez o seu cantar famoso Nos pegues-pagues do mundo. Criou um rock gostoso, Melado em baião, xaxado, Tango e bolero sestroso, Saindo um som dos diachos, Sem mal, mas malicioso. Sempre tentando outra vez, Mordeu maçãs com verdade, Rezando à Ave-Maria Por mais criatividade. Não desapontou o povo Compondo belas canções, Dando aos pedros brasílios Uma obra de valor, Com lucidez na loucura Sem conselho ruim, careta, De há dez mil anos atrás, Buscando cedo as respostas, Pois saber nunca é demais. Alertando contra abusos, Tinha audácia em suas vistas, Sempre na frente da vida, Sob o olhar dos fascistas.

BENG BANG

O Universo em nós, vulcões nos sóis-átomos, explosões inaudíveis aos ouvidos falhos A alma, apenas pretexto ao ínfimo que à frente move, por si, em si, infame, vil Um átomo comanda, cânceres espreitam o corpo e seu descuido, doenças  avançam, lutas, naves se chocam na psiquê,  glóbulos em fúria-fluxo nos planetas  órgãos

F LUA AB AETERNO

Disse H: - Por mais que se chore,  ao final sempre assoamos o nariz. Ao seu lado, no bar, estava K, escondido do pai, enchendo  o nariz de pó de mata - baratas, droga espalhada pelos trouxas. Aff, cara! O dia.... O dia prosseguia  sem ligar para aquilo tudo, esperando pra fumar a lua espetada no lençol da noite. O dia, que espetou a lua, não podia aparecer, mas, ao crepúsculo, no finalzinho, aproveitava e botava pra  f a lua ab aeterno por trás do escuro da pontinha da estação da Via Láctea Por isso que os dias estão rubros de tanto brisarem de noitinha

ÓBITOS BARATOS

Os óbitos  das baratas  na  mesa. Fui presto. Fui rápido. Mosquitos também insistem em morrer aqui em casa. Como o inseticida acabou, conto outra vez as baratas e no corpo a corpo tenho de arrancar as asas da palavra barata uma a uma. Não tenho método pra isso.

ELA - A MENDIGA ASTRONAUTA (POEMA I)

De qual paraíso ou planeta ela veio, eu não sei ao fim e ao cabo. Um lugar onde ninguém ousou ir? Não de Atlântida ou de Xanadu. Mas, sei que passeia entre meteoritos de nojo e indiferença. E sei que não tem emprego, afeto, skate. Conhece toda a cidade quando acorda para esquecer quando se deita. Alimenta-se com as pombas. Banha-se ela com os sapos. E aposta cuspe à distância com ratos e colibris. Já a vi comer das mãos inseguras de uma senhora com bengala de sóis. Sim, seria uma boa empacotadora. Cata sacos como ninguém. Veste-se de modo independente. Se quer mijar, faz no canto da Igreja, Bem na madrugada, escondidinha. Embora com a permissão dos santos, a família Santos, dona do terreno, não deu permissão, porém. Jogou suas roupas no fogo... Deu graças que não jogaram os plásticos. Ela é uma astronauta urbana, Tem saudade das calças plásticas. E sacos plásticos dão som ao recheio de suas roupas. Eis que vejo-a num l

TRAVESSIA NOVE

( Urbana Paisagem) Corta a cidade, a atravessa, a grande avenida, como um pensamento atravessado por uma malícia, a avenida lembrando um fio de carícia no rosto da cidade, o sexo a penetrar a cidade, a grande avenida nove, serpente de asfalto e fome, fome de pneus, de calçados de corredores, calçados de madames, moças, pés descalços, pequenos ratos, cachorros, acidentes, paradas, desfiles, a grande avenida nove, com história de escravos atrás de si, corta a cidade a nove como o rio de João, o talhe de Maria na carne do tempo, como o sonho de Martins furando o real, como a moto no corredor, atalho à minha pequena casa-cidade, onde pérolas nascem e renascem no coração da concha-lar O sangue da cidade nessa grande avenida empoeirada e melada de ambições, ideais concretos, ou de concreto, asfalto, fezes de cachorro, uma grande cauda de um extremo a outro, uma grande cauda de vestido azul, quantos exploradores ali perpetraram assaltos legais e ilegais, jogos de avenida-cobra-tentadora-arr

HUMANIDADE

Começo das estações no palco: Comecei falando  Da merda com Prometeu. Hércules ainda não chegara. A Águia queria tirar-lhe a alma. Mas tinha um bico muito concreto. O hálito seco  do sopro da rocha. O esboroar do espaço denso  e o silêncio da platéia. O gume da luz  nos cegos de olhos de pré-fim(de quem?). Bagas de poeira nas máscaras dos gestos. O mendigo com apenas um caixote para dormir,  dois sapatos sem sola e miolos  espalhados de faz-de-conta. Subir no caixote indica coragem. A Coragem, uma mosca nua, facas nas asas. Romeu vê jacarés frente ao shopping  subindo pelos preços. O gume da sombra no fígado de Prometeu entupido de amor e luz e sujeira das drogas dos becos. Prometeu abanava a orelha direita e só eu percebia.  O único que amou o mundo. Só eu o via. O sarnento. Prometeu é lá nome de cachorro! Me dizia o outro eu, na lata. O nome do cão era Jesus antes. Mas volta e meia acendiam velas Em torno de sua casinha minha. Prometi a mim mesmo mudar-lhe o n

SOU A SOBRA QUE DÓI NAS SOBRANCELHAS

Eu sou o sol que som... Sou a lua que luz... Sou o tapete no qual mosquei.. E o escrito? Tudo acabou? O que começou? Eu sou o carro. O cão de orelhas murchas Na frente dos bois. Depois. O pássaro sem noção de vento. Sou o poema que se perdeu dos olhos. Tudo foi em vão? Do. Da. O que começou? Sou o cavalo gerado por mãe-formiga. Sou o assunto que não se inicia. Sou o tema que ninguém glosa. Sou o oceano que imita a si mesmo. Para que servi, Tempo? Para o som de corpo que se perdeu? Sou o abraço sem braços. O beijo sem bocas. O braço reto da curva. A sombra sem origem. Para que existo? Se vivo do que morre na memória? Não sirvo à merda de um texto único. E sirvo também. Antes que me peçam Que eu exista como régua, compasso E transferi- DOR.

JOGAREI EM TEU CAMINHO

Jogarei em teu caminho gotas de riffs de guitarra roubados de bandas que nunca foram avante por inveja dos pássaros emplumados Não escaparei da vida, criarei jardins onde flores nascerão com sua face de baterias estouradas Pararei o universo com baixos feitos do arvoredo que há em volta de cada pensamento de ódio e atearei fogo em toda a memória onde não estejas presente Batucarei nas estrelas, sangrarei anjos caindo pra começo de conversa, enquanto todos enlouquecerão com o som das entranhas do trovão, ao te contemplarem o indefinível olhar

METEORITO DE MAÇÃS

São escravos? Escravos de coisas bonitinhas e de coisinhas radicais  que aparecem na Glogword. Que vão comprar na esquina coisas pra diverti/ lapidar o dia- mante marchetando frio e duro por dentro o peido dos órgãos Lapidar a dia- mente fervendo sons de mercado distorcidos por fantasias de rebolados onde a inconsciência almoça e janta Julgo: eles apodrecem com vermes na ilharga dos ouvidos retratados nos jornais como anjos procurando infernos pra se salvarem de sua inexistência E os olhos deles esbugalham na espera do fim com suas teses pop de aprender a voar em céus mentirosos de celofane azul enquanto assaltam na cidade onde o medo almoça e janta Dizer para os anjos que eles não existem pois os sons são mortais pode até desviar o meteorito de maçãs

COOPTADOS APENAS

Cooptados, Cooptados com tal desfaçatez Apenas para ganhar E fingir no espelho seus Tons venais a amarelar Mil vezes, Usam a traição Para triunfar, Lagartixas a se melar Na antiética parede Do T ranssub, Abusam das costas alheias, Suas palavras  Na cal fina cravadas, Artistas com ética vendada Comem manos com risos A mancheias, E o trem não passa...

O EGO

O ego o nó seu cego o marinheiro só na pista corre nega artistas diz que é o tal o prego e rega o eu com coca-cola de pneu nos comícios-vícios onde o preço é vil

LEITOR

Ele entrou no livro. E precisa comprar pão. Sua mulher pede. "Amor, vai na padaria." Ele sai do livro entre um substantivo e um verbo. E vai buscar dinheiro para depois comprar pão. Embora tenha tomado cuidado, Sua roupa está suja de acentos e conjunções. Vai comprar pão. Depois, voltará a ler. Todos sempre voltam. Sina de quem entra é não sair jamais. A não ser pra atender a voz do amor.

MENTIRA

Minha mente está agachada debaixo do coração só por um momento enquanto passam aviões de papel Minha mente está agachada debaixo do coração só por um momento enquanto passam aviões de papel no fígado Minha mente está agachada debaixo do coração só enquanto escrevo a palavra trativelindepraglutifitotinquelux e enquanto caem incendiados os aviões de papel nos rins Minha mente está escondida debaixo do músculo cardíaco enquanto preparo um romance festivo cheio de pequenas fábulas tristes enquanto leio aquela palavra e enquanto o fogo cai do céu de mim Isso não é um poema pra ler e se emocionar talvez pra acumular-se dos cúmulos que enchem os fatos e fazem crescer o bíceps da alma nos céus do poder ser como posso esvaziando sempre a bexiga após a escrita líquida

COMO?

Que o perdoem antes do próximo fim dos mil perdões por seus paradoxos, por seu jeito tonto e findo de intelanônimo Pela fragilidade dele amar com medo a facilidade de fugir antes de cantar a frase Por ele não encarar com garra e força a amizade nos momentos necessários em que adiá-la é insano Peço que perdoem-no, antes do fim disso, deste gesto insano e infeliz que não conseguiu agitar no ar, os braços pensos Esta máscara cairá antes do fim,  deveras Peço perdão por ele ter exposto sua mente  venérea Se rejeitou o cultivo das prosas, foi por desvio, entendam, é que do lado esquerdo foi rei do reino rendido de si Peço perdão pelo verso que não escreveu por sono... peço perdão pois definiu o poema-ônus....

VOZ AZUL

Resistindo, o passado, Memórias à chuva. Visões de praia e sol e eros Beijam meus olhos bífidos. Mesmo com o mar agredido Pela chuva aos relâmpagos, A memória vem e vai nos olhos das águas.

FUGIR PRA TUA PELE

Fugir pra tua pele. Abre-me tua derme. Abre-me. Em mim, há só o mito de mim. Sou selvagem como um carro envenenado. Lá adiante há uma casa. Na frente, há uma praça. E a graça de amar a culpa senta no banco. Querida, a morte pode vir Amanhã de manhã depois, com permanente? Quero fugir pra tua pele. Morar lá. Depois da f. Devo passar pela. Em mim, só há o mito de mim. Perto de nós, um sonho foi esmurrado. Não conseguimos salvar essa vítima. Já nascemos culpados, querida. Já nascemos culpados. Esmurramos. Querida, a morte não pode vir, Virá?

SILÊNCIOS NÃO SÃO MAIS TÃO INOCENTES

20 DE JULHO DE 2015 SILÊNCIOS NÃO SÃO MAIS TÃO.... O tigre perde o sonho e a esperança, meu ninho se esfarela neste claro, como uma barragem destruída no avanço, dando espaço para o golpe. A astúcia de ser bom padece um pouco, o tigre e o seu rajado dão o mote, canalhas urubus vem a galope cobrar pedaços bons de nossa carne. Na Europa, sombra densa e vento forte, na tempestade do euro fazem fúrias, aqui sobram juízos muito infames, e o tigre ruge mais e, velho, tosse. Levanto a direita mais à frente, protejo com a esquerda o que retorna, a fala me desanda e fere as normas, silêncios não são mais tão inocentes, e a alma do poeta perde a forma sob a violência das notícias que sangram nas manchetes que adornam a sempre insondável roda-viva

MEU REINO VOS OFERTO

..Estou imerso no poema E aqui faço-me rei de ouros De um reino enorme. Registro sentimentos como coisas E coisas como sentimentos, Com o poder de tocá-las Com mente e coração e dedos. Daqui, de um lugar bem alto, Salto sobre dores e amores Com asas mal coladas, Exercendo o vão direito do desleixo. Caio sobre terras Costuradas com sonhos de volúpia E ali sou assistido por deusas insones De ninhos marinhos que no poema gero. Dou a estas as cores que desejo que tenham. Engendro um exército de crianças No verso que quero, inicial ou final, Para que me defendam com sorrisinhos pontiagudos. Neste poema, meus mortos ceiam comigo Lado a lado com meus vivos que morrem de rir. Comemos Vida e bebemos vinhos de Esperança. Aqui sou bom perto das Mãos. E sou perdoado ritmicamente. Preciso das coisas e pessoas que aqui gero Pois sou frágil e dependente como um cão. Elas permanecerão aos olhos de quem queira ver. Preciso das pontes que aqui construo e derrubo Ao transporte de poeira lírica à alma fu

CARCAÇA SOBRANTE

O homem e o mar de estar com tempo escasso, gorduras, lassos ossos, ondas de morte sem espuma, pretensões de dominar o espadarte de cada dia, amarrar os ruins a canoas, arrastá-los no ossário pestilento da rampa exibida fora do mar tranquilo deste sofá, onde é nula a resistência; os tubarões são insones no planalto das cifras da FGV VGF FVG GVF GFV, cheirando pó nas festas, pó de desumanidade; amarrar então a alma à canoa, preferível as sereias, sejam sérias ou de entreter à beira de uma história que te arrasta fundo ao fantástico, focinho nas luzes cegas; a solidão deste alto-mar fictício, quem o conhece, ó velho, como tu? ............................................................ Ingênua a esperança que trazes nesta tua vaidade cômica, como este rubor ao que desconheces; não há mais não querem mais a Arte, na busca servil dos Amigos que ofertam o Produto Superior; temem-te as rugas do pescoço, canaletas de amargura, erosões sem chuva, cancros de desânimo, manchas de des

CADEIRA DO TRONO

O dia vem, a noite vai, uma rede de sensações, culpas, luzes, escuros, e quem tem a mão no som, nas imagens, desliza com/sem cuidado, o vômito do anjo da guarda espionado sobre várias cabeças amarelas, a noite cheira a própria inconsciência, seres marcham à busca do gozo, saudades dos seios sem desespero dos primeiros anos Muitos batem à porta e querem sair, mas perderam os gestos, embora a chave, as lâmpadas os atraem, as letras ofuscantes, o luar, bêbado de raios prateados, e...para que/quem serve mesmo a cadeira do trono?

NOSSOS ASSASSINOS (MEUS E SEUS)

Estão por aí Os meus e seus assassinos Juram fazer o Bem em nome do Livro Dizem que a Bondade não deve ser direta Os meus e seus assassinos Matam todos os dias Com palavras que deliberam O emprego a aposentadoria Dizem: todos hoje vivem demais Ganham demais O que querem Muito falam/matam os meus e seus assassinos Todos bons pais e bons amigos e bons filhos E distribuem sopas com moscas aos domingos Depois de irem ao templo Acordam como todo mundo Mijam escovam os dentes E não tremem Diante da maldade que vão fazer Diante dos mortos que deixarão pelo caminho Perto da minha casa Um deles quebra um celular de raiva Na cara de uma árvore dançarina O vento lhe empurra Uma carruagem de fogo o atropela Com pensamento cheio de chumbinhos Todas as espécies de animais lhe interessam Se ocultam no meio do sangue Vomitam desumanidades em nossos pés Quando atiram famílias nos poços Palitam os dentes com sua inconsciência

FIZ CAFÉ E FOI BOM

Fiz café e vi que foi bom. Fiz meu mundo e gostei. Cortei a fatia do pensar com que acordei. Sentei na cadeira de um rei que morr(eu). Compreendi que não há restos desaproveitáveis. Vasculhei a memória naquele canto empoeirado. Encontrei um cavalinho preto de plástico. Alimentava-o com comidas de besteiras jogadas. Dessendentava-o com água abestalhada. Blasfemava plasticamente. Plastificava-o mas ele não morria. Meu pai me fez um brinquedo de madeira. Um triciclista. Durou muito aquele menino ao triciclo. Não tinha nome. Eu só gostava daquele brinquedo Como de um grande amigo. Um grande melhor amigo. Tomei o café e cutuquei Um caroço desamigável de mosquito.

ENTENDO-ME?

Entendo-me como um desentendedor. O que está à frente dos olhos cria limo, por querer entrar na visão que tenho das coisas. Desnaufraguei da ilha de Acharkistoucerto. Sei que há mistérios na pele que ignoro. Ignoro mistérios ou a pele? Esqueço de banhar os poemas. Fedem ao eu de máscaras feito. Tirei uma foto do pensamento justo. Estava baça, não enxerguei a essência. Talvez deva fazer outra coisa com as palavras. Talvez deva deixá-las no teto pra secar. Onde há grama para deitar o fluxo das coisas? Desentendo.

ENGATADO NO VAZIO

Nunca disse que faria bom ou ruim. Só admiti que talvez na noite eu plante gatos em cada verso magro. A noite é boa para os absurdos. Para minha casa não voar amarro-a no pensamento de um pássaro. Quando sonho, vivo de verdade todos os anseios desmazelados. Tenho uma orquestra de mosquitos, pago-os com o sangue das dez horas. Com meu ronco, alimento a mudez do criado-mudo. Meus olhos são pequenos para as órbitas não fugirem. Meus sonhos existirão, a preceder essências? Daqui há pouco, durmo engatado no vazio.

BALANÇO NAS NEBULOSAS

A música balança as nebulosas, brilhantes cabeleiras na noite, viajo na pele de varíola da lua. Não há bafos que não sejam de sonhos. Uma mariposa ronda a luz de casa. Há olhos em seu voo. A morte me espera, finjo que não a noto, ela fica nua para mim. Finjo que não a desejo. Um beijo. Moiras dividem um. Luas na nuca. Foto.

NAS ÁRVORES DE ONTEM

Quando cheguei em ti com um hino roubado a Dionísio, um raio roubado a Zeus, um perfume roubado a Vênus, estavas no enredo Com a ajuda das Musas criei para ti um tapete de poemas a que deitasses mansamente e sonhasses o que quisesses, esperei.... Conhecemo-nos de novo, Tu disseste, eu já fui tua, Tu disseste isso e eu teci com palavras nossa Igreja, pois, tinha fé no que me disseste por teu corpo e alma e além Olhei em teus olhos e me achei, eu estava lá, Lúcia, eu estava lá e o brilho de tuas retinas formaram lagos nos quais me atirei Cúmplices, em audácia, voamos nas aves de fogo da aurora, ao sabor dos ventos misteriosos do superior afeto, Sentamos nas árvores do amor até que de dentro brotassem nossas esperanças-flor para o Jardim do Tempo

STRESS DE PASSARINHO

Já lá vão meses do ano novo, Mais que os dez anos de Ulisses, Os fogos foram disparados Como um pensamento de amor  Das flechas de um mito Seis meses completos, Fogos de artifício, Olhávamos da praia Os céus que teciam nossos olhares Cores magníficas, Cogumelos de estrelas trançadas, Sete ondinhas todos pulavam Não perceberam o stress Dos pássaros que caíram Como aqueles rebeldes anjos Por entre o barulho dos fogos Pássaros tem stress Como todo mundo, E tem passarinhos com chupetas E choram diante de artifícios 4.000 pássaros morreram misteriosamente, Como a vontade de ficar de pé neste momento, Como este hambúrguer morre na minha boca, Depois de ser torturado na frigideira

COM TUDO QUE LEIO E SINTO

Tinha um caminhão chevrolet, um livro sobre o socialismo e vários folhetos de cordel, entre eles de João Acaba-Mundo, que lia até que acabasse o Mundo Claro do Dia. E minha mãe o amava. Todos o amávamos. Conhecíamos seu cheiro. Carregava cascalho e enxofre. Seu caminhão tossia. Um dia ele disse:  vou ser meu, já! Foi quando comprou o carro com tosse. Foi ficando oleoso, com graxa. Sempre embaixo do carro. Me pedia a chave de boca. Eu entregava, boca fechada. Me pedia o virabrequim. Era mui pesado. Ele sorria. - Vá ler um cordel! Eu ia. Li muitos cordéis. Que se enlaçaram no meu ser. Sobre Lampião, Corisco, etc. e tal. Embaralharam lá dentro Na armadura de Dom Quixote Feita de pensamento e sonho. Hoje, ele está dentro de mim Com tudo que li e leio e sinto. Vez em quando escuto uma tosse Bem fraquinha no beco da memória.